quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Integração



Hoje eu só posso ser isso
O submisso que sempre rui,
Flui para lado do eu omisso
Remisso na alma que intui:

Os dois extremos do abismo
Anacronismo duma preposição,
Na interposição do ufanismo
Do casuísmo do meu coração.

Mas, porém, todavia, contudo,
Sou tantos reféns, sobretudo,
Nesse intento de saturação.

Esgota-se o tudo do eu nada
Minha demência exagerada
E estagnada nessa integração.

(André Bianc)

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

XII



Exígua tarde que vacila
Nas hastes das sensações,
Da loucura que oscila
Nos vértices das razões.

Seu indecifrável mundo
Corpo, o sonolento astro,
Alma, vela sem o mastro
Fundidos num segundo.

Duma estranha beleza
Sem direção nenhuma,
Sua vida é a correnteza
No tempo que espuma.

(André Bianc)

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Outro noturno sob um céu claro do meio-dia


Os sinos dos meus sonhos badalam desesperados
Na noite turva sobre os meus lábios ressecados
Nunca frenética e surda melodia de incompreensões.

E as cismas frágeis ululam nos instantes indolentes
Levantando as sombras dos meus cílios dormentes
Num pesadelo acordado de reles e pobres pretensões.

De viver esse tudo ao nada que pouco não bastaria
A voracidade e a fome inútil de um amor na poesia
Daquelas de retalhar nossos ingênuos corações.

E volto meus passos sobre um inócuo futuro
Um piano, um gato miando, uma frase no muro
E outras imagens dos meus delírios e sensações.

Inacabada a vida sempre será....

(André Bianc)

Sintonia


Depende da harmonia
Vibrantes dissonantes,
Nossas raras sintonias
Corações equidistantes.

Transversal sinestesia
Tesas instrumentais,
As cordas das poesias
Reverberam triunfais.

(André Bianc)

sábado, 17 de novembro de 2018

XVII


E nada do que nada consiste
Das sombras ignoradas ao sol posto,
Bateu-me no rosto o dedo em riste
Dum tedioso dia de desgosto.

As memórias lançadas nos ermos
Imagens projetadas num deserto,
Pergunto se sou eu os mesmos
Nesses cadáveres que desperto?

E sob o azul de um céu vaidoso
De assíduas nuvens marginais,
Minh'alma dum ego vagaroso
Levita entre sonhos espectrais.

(André Bianc)

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Suposição


Temo o que ainda não despertou
Inusitados ódios-ócios reprimidos,
A covardia que a sanidade enterrou
Na débil cognição dum vago sentido.

Travestido em cordeiros impossíveis
Eis o homem que em mim formou,
Múltiplos de compaixões horríveis
Na desconexão hostil que frustrou.

As sepulcrais eternidades depostas
Estática ira nas faces decompostas
Pela ferrugem rude e entronizada.

Nos átomos de núcleos mutilados
Que subjazem nos seres jubilados
Sou uma mera suposição ignorada.

(André Bianc)

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Nada


E se passo não saberei
Do seu ponto original,
Dei-me apenas o sinal
Pois a dicotomia é lei.

E jogue uma pá de cal
Dúvidas que causarei,
Fronteiras desse casual
Na migração eu estarei.

Teu existir que obstina
Na distância que ensina
Teu amor me esmagando.

Nosso sonho decadente
Nada mais é tão urgente
Que o nada perpetuando.

(André Bianc)

Pretérita


Quero o que ainda não existe
Mas que resiste em seu querer,
Crer nesse nada que consiste
E insiste dentro do meu ser.

Esse poder que nos alcance
E que talvez balance o coração,
Nas mãos um traço que lance
A nuance da pretérita paixão.

Um estado doce de demência
Nosso desejo é a consequência
De uma entranha sintonia.

E vamos transcendendo nos versos
Viajando por nossos universos
Nessa rota iluminada da poesia.

(André Bianc)

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Monotonia


Catalisado no vazio
Esse tudo que não há,
Só de pensar eu esvazio
Onde nada nunca está.

E imerso na dimensão
Desse espaço e tempo,
Descompassados estão
Tudo que é momento.

Um lapso, a brevidade,
O tédio da eternidade
De sentir, mas não fluir.

O sonhar é um desvario
No oco eco do assovio
Que tanto teima repetir.

 (André Bianc)

Inexata carência


As intenções retilíneas das suas curvas
São sinuosas na minha linha incerta,
Nesse diedro do desejo que turva
Teu olhar ansioso para a volúpia reta.

O brilho rijo do ângulo que obtém
Seus seios longilíneos nessa perpendicular,
Ao anseio sagrado desse vai é vem
Que advém o meu ser sobre o seu estar.

E a noite inventando seus planos...
Nossos corpos escondidos sob os panos
Da sentença matemática que anuncia:

A inexatidão dos opostos sentidos
Dos celerados sonhos e gemidos.
O amor verdadeiro a tudo renuncia.

(André Bianc)

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Orfandade



Não penso, mas escrevo
No relevo do meu sentir,
Mentir, assim me atrevo
E descrevo sem omitir.

A sucessão do desvario
Num desafio inacabado,
Concretizado no desvio
Por um fio equilibrado.

A loucura desse poeta
Torto numa linha reta
Eis-me aqui, realidade!

Nas franjas desse dia
Nas estrofes da poesia
Chora a minha orfandade.

(André Bianc)

Imaginação


Nas tardes de outono
As sombras se alongam,
E douram o pó do sono
Dos pensam que amam.

Passam de mãos dadas
Prendem o amor natural,
Na beira das caminhadas
Do precipício sentimental.

A força motriz do hábito
Que sustenta esse hálito
Da cômoda resignação.

E voltam para as tardes
Dois corações covardes
Amar é só imaginação.

(André Bianc)

sábado, 19 de maio de 2018

Trilha sonora de uma história jamais contada



Nesse mar morto não caberia
A palavra fria na concha calada,
Negação duma outra fantasia
Afogada no coração da amada.

O sentimento dos barcos já idos
E jamais devolvidos ao nosso cais,
Perscrutam nos dias esquecidos
O meu amor na pele dos chacais.

Você, o mar, eu e a floresta
Fundidos ao nada que presta
Onde até o sol ensombrece.

E póstumo, diante de você estou
Esse seu cadáver que hoje sou;
Sepulta-me e depois esquece.

(André Bianc)

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Narciso



O siso desse metal
Do natural sorriso,
No inciso incidental
Esse mal que preciso.

Num alerta ocasional
No aval que compete,
O Confete casual
É vendaval de Gillette.

E que mal se tem
Eu amar ninguém?
O amor é improviso.

No que transcende
Na mentira indecente.
Muito prazer, Narciso.

(André Bianc)

Naquele outono que eu não vivi


Eu não tenho mais onde pisar
Nesse pesar, o amor defunto,
O conjunto desse tempo passar
E lograr o que nada é fecundo.

Dores e bolores desconjuntam
Os transeuntes vazios e espaços,
Nos desembaraços que adjuntam
O teu coração sob meus passos.

E minha alma feita de ventania
A calma rasa que não deveria
Levantar as noites do teu sono.

E nesse abandono só me restou
Esse lugar onde nunca estou.
Eu piso nas folhas do outono.

(André Bianc)

Não muda nada



Para o mesmo endereço mudei
Retornei assim de onde vim,
Enfim então me descompensei
E decepcionei o ciclo do meu fim.

Crente e contente eu encontrei
E tropecei no mesmo caminho,
No desalinho que então provei
Quebrei a taça do mesmo vinho.

A novidade que é a rara mesmo
E rasa dum passado a esmo
Amansa a vontade de me matar.

Nessa vulgar de raríssima hora
Divagar nesse devagar que devora
O tempo sempre no mesmo lugar.

(André Bianc)

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Da janela de um quarto de outono

O peso do passado que pesa
Lesa aquilo ora antes traçado,
Disfarçado na paixão perversa
E inversa ao que foi sonhado.

Da janela entreaberta eu vejo
O desejo do sol em mim se por,
A dor do pensar de um ensejo
E nela prevejo num vago supor.

Meus dias cinzentos, mas felizes
Apesar de todas as cicatrizes
Que da vida eu muito herdei.

Mas hei de viver a nova aurora
E o tudo que me foge agora
Do amor que eu nunca terei.

(André Bianc

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Muito longe do fim


Eu não ando escondido
Aturdido ou desencontrado,
Meu fado de fato foi precedido
E movido por lapso malogrado.

Eu estou falando para você
Ser que reverbera em mim,
Enfim estamos à mercê
De crer num distante fim.

(André Bianc)

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Sinestesia



Meu amor é transgênico
Uma rara mutação,
Do mel real ao arsênico
A corrosiva efusão.

O débil antagonismo
Eu nunca tenho razão,
Egocentrismo e cinismo
O cataclismo, a erosão.

Narciso, as convivências
As demências e falências
Ao fim estarei coberto.

Da vã e inútil filosofia
Intrínseca na sinestesia
Desse amor tão deserto.

(André Bianc)

terça-feira, 3 de abril de 2018

Eu sei, mas não aprendo.



O amor é um estorvo
Corpo estirado no fluxo
Um regurgitar, o refluxo
Da carniça de um corvo.

Digo isso calmamente
Amo, mas me comovo,
Com a inocência doente
Das pedras que não movo.

Mas eis que de repente
Ela, a maçã e a serpente
E a crença desse povo.

Uma visão deslumbrante
Dum sentimento delirante
E eu errando de novo.

(André Bianc)

segunda-feira, 19 de março de 2018

Asfixia


Eis aqui um poema romântico!
Exatamente como você me pediu,
Parido de um mal estar semântico
Das tolices que esse amor proferiu.

E nesse carrossel de rasas retóricas
Faz-se um escarcéu de meias vontades,
A luz da dinâmica das volúpias inglórias
Faíscas reluzem das nossas vaidades.

Assim, antes que tarde eu escrevo
Com a minha língua áspera no seu relevo
Esse poema com tamanha contradição.

E virando-te de lado ou de bruços
Com o travesseiro calo o seus soluços
Sufocando o que quer a sua razão.

(André Bianc)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Estação



Fostes a fêmea
Amada, efêmera
Tardes outonais.

Secaram as folhas
Das nossas escolhas
Em nossos quintais.

(André Bianc)

Amém



O peso da vida nas costas
E uma oculta estranheza,
A alma servida em postas
E salgada sobre a mesa.

Assim somos bem servidos
E devorados com prazer,
Pelos Deuses subvertidos
Onde a crença é obedecer.

E por conta desse desatino
Eles culpam o falso destino
O descalabro de apenas crer!

E engolindo essas verdades
Vomitando nossas vontades
Vamos imaginando viver.

(André Bianc)

Terceira sessão



Em ti a procura
O andrógino ser,
Nada para crer
Senão na loucura.

Passado oculto
Olhar demente,
O brilho doente
Reflete o vulto.

E no frio divã
Essa doença satã
Ímpares mundos.

Somos o reflexo
Do contexto convexo
Dois moribundos.

(André Bianc)

Deixar arder



Um poema glicosado
Minha diabete vai mil,
Gosto do verso azedado
Esquizofrênico e senil.

E por favor, não venha
Com cartinhas de amor,
Porque a vida desdenha
Quem crê nesse horror.

E antes que me conteste
E diga nada que preste
Ouça essa iniquidade:

Lerei as confidências
E as doces indecências
Do grande Marques de Sade.

(André Bianc)

Pequeno ensaio de um futuro que nunca virá.



Sofro das demências
E das inconsequências
Do meu coração.
Se vieres me pedir algo
Estendo a minha mão
E logo e com todo cinismo
Te solto no abismo
Da minha paixão.
Acho melhor não.
Mas se quiseres mesmo
Ofereço-lhe o esmo
Da minha ingratidão.
Pense direito
E com todo o efeito
Dessa nossa ilusão.

(André Bianc)

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Engenho

Meu amor é o sofisma
Artimanha que se fez,
Num acaso que abisma
Em toda falsa sensatez.

Embuste, ardil, a cilada!
Uma trama endrômina,
A paixão só encenada
De uma autora anônima.

E nessa doce aspereza
Às cegas e com destreza
É um poço de cavilação.

Mas o tempo é engenho
Tritura tudo que tenho
Dentro do meu coração.

(André Bianc)

Tarja preta


Só contraindicações
Ingerir?  Nem o casual,
Princípio ativo do mal
Detona os corações.

Essa coisa não tem bula
Nesse frasco temerário,
Tentação é a nossa gula
Desse intento ordinário.

Mas pode ser inevitável
Essa poção tão “amigável”
Ao fim nos causará dor.

Depois é abraçar o tédio
Não tem santo e remédio
Estou falando do amor.



quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Ditame

O amor é um ditame
Compensa essa ilusão?
Aceite e não reclame
Desatinos do coração.

O clássico erro do prazer
Carnal, o certo engano,
Até a ferrugem corroer
O que penso que amo.

Na pele como tatuagens
Dessas frustradas viagens,
Os indeléveis extravios.

E se me encontrar um dia
Não sou eu, é a sua miopia,
Somos velas sem pavios.

(André Bianc)

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Pequeno Vício


E nada mais muito me basta
Tenho o chorume do mundo,
Eu sou mesmo esse oriundo
Dos lixos dessa ideia vasta.

Pronto, agora apenas arquive
Tudo numa velha pasta,
E quanto às pedras, esquive,
Nesse declive que tudo arrasta.

Por favor, insisto, agora basta!
A vida é uma tentativa gasta,
O melhor mesmo é abstrair.

E tragando essa densa fumaça
Vamos viciando nessa desgraça
Da droga alucinógena do por vir. 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Lição de casa


O que eu desaprendi
Foi o que nunca soube,
Mas confesso que vivi
O que jamais me coube.

Na vida sou um intruso
Nesta festa que estou,
E entender é ser confuso
Ao saber que nada sou.

E nessa vã introspecção
Sem nenhuma convicção
Nada tenho a pronunciar.

Pelos cantos vivo calado
Sobriamente embriagado
Num catastrófico pensar.

(André Bianc)

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Diva

Puxo o cobertor
Nascem dois sóis,
Auréolas a expor
Vívidos arrebóis.

E mais um pouco
Relevos incidentais,
A negra teia voraz
Faz-me um louco.

A imagem escultural
Cristaliza o ato carnal
Na etérea sensação.

A lembrança furtiva
Memórias de uma Diva
Poeiras no coração.


(André Bianc)

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Juntos

Somos um hiato
O interstício vão,
A pausa, senão
De um novo ato.

Ter no intervalo
Pouco que resta,
O amor que calo
Ao fim da festa.

Depois me mato
Eu mesmo ingrato
É pura imaginação.

E nós dois juntos
Sentimentos defuntos
Em um só coração.


(André Bianc)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Incomparável


Acolha-me em seus braços
Além dos outros mundos,
Relativos tempos e espaços
Que abstraem os segundos.

Da sua voz altiva e em chama
O eco algoz das profundezas,
Reflete a sua silhueta profana
Em noites a fio de sutilezas.

E debaixo da etérea camisola
Tens a áurea sutil que consola
O meu torpe e primitivo intento.

E todas as gotas que provarei
Cristalizadas na alma as terei
Um incomparável sentimento.


(André Bianc)

Pleonasmo

E distorci a realidade
Eu sonhei por demais,
Meu amor é vaidade
Uma conquista a mais.

Estranha a natureza
Minha parte nefasta,
Amo com rara pureza
Mas a cama é que basta.

E quando a tona vem
O engano que detém
Dessa minha invenção.

Perco o entusiasmo
O amor é pleonasmo
De uma boa intenção?


(André Bianc)

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Laborioso

Bem melhor do que falar
Palavra escrita é tatuagem,
Precisa de pouca coragem
Basta deixa-la transbordar.

E escrevo essas bobagens
Melhor que tenho de mim
Os personagens e viagens
A desconexão do sem fim.

Dessa retórica contumaz
E a boa contradição capaz
De muito mesmo ironizar.

Aquele bom antagonismo
Necessário e velado cinismo
Um orgasmo ao pensar.


(André Bianc)

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Fingimento

Eu sou raso mesmo
Medo de me afogar
Não desfilo a esmo
O que posso guardar.

Pérolas de sabedorias
Ah! O velho Buk falou...
Das necessidades vazias
Que alguém vomitou.

E fingindo ser poeta
Meu poema é a seta
Que tento não ferir.

A sua inveja velada
Aqui somos um nada
Mas podemos fingir.


(André Bianc)

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Pensar

Bebo o que não há
O copo meio vazio
Ou meio cheio está.
Enfim, é só desvio.

Num labirinto de ar
Eu só e tão sombrio,
Geométrico linear
A vida por um fio.

A hora excêntrica...
Uma dor egocêntrica
Como explicar?

Algo virulento
Quase não aguento
Sofrer é pensar.


(André Bianc)

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Adagio 21

Ferrugem secular
A garça pensativa
Os olhos desenhar
Âncoras inativas.

Maré fria vazante
Digitais na areia
A noite ululante
O canto da sereia.

A última lanterna
O coração externa
Luz na escuridão.

Por hora o cansaço
O fardo do fracasso
E o prazer da solidão.


(André Bianc)

Falta

Uma ideia casta
Jogada na gaveta
A palavra gasta
Ferida pela caneta.

Inútil inspiração
Escrevo pra quem?
Dolorida ação
Mas ela não vem.

Difusa imagem
Aquela viagem
Terra estrangeira.

Falta-me direção
O verso na mão
E a poesia inteira.


(André Bianc)

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Fantasiosamente...

Da alma, o historiador,
A catastrófica memória
Nosso tempo demolidor
Ficção a nossa retórica.

Foi ascensão espantosa
As Juras veementes
Entre rosas e serpentes
As delícias venenosas.

Minha sombra ainda figura
E transmutam tessituras,
No seu corpo-geografia.

E eu sempre desmedido
No teu gozo suprimido
Nossa paixão é fantasia.


(André Bianc) 

domingo, 24 de setembro de 2017

Não foi nada


As pedras floridas
No céu penduradas
Estrelas sofridas
As horas queimadas.

Uma dor reluzente
Nos olhos da amada
A viagem urgente
Daqui para o nada.

E a inexata certeza
Servida fria na mesa
Pratos de solidão.

Viver é não servir
Ao que nos resta sentir.
No mais tudo é vão.


(André Bianc)

sábado, 23 de setembro de 2017

Historinha Rivotril. Ops, ifantil

Eu também gosto tanto
Das histórias de dragões
Daquela que um tal santo
Assassinou os sete anões.

E da Rapunzel de avental
Comeu a maça envenenada
Furtou o sapatinho de cristal
Do Saci em disparada.

E em meio de tanta confusão
O príncipe sobe no pé do feijão
Deu de cara com o Ali Babá.

E Dom Quixote dos Cervantes
Tomou as pingas das estantes
E desmaiou no velho sofá.


(André Bianc)

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Valsinha Marítima

A noite chorosa
Vestido rendado
Você venturosa
O sonho sonhado.

Já sem protocolo
Tua face corada
A outra alvorada
Te pego no colo.

A hora prisioneira
E você por inteira
Nos ares a bailar.

Mas foi só fantasia
Quem sabe um dia
Eu volte do mar?


(André)

Vapores

Porta encostada
Um vento tardio
A voz aveludada
Manto sombrio.

A hora suicida
Na cama alada
Paixão distraída
A fé abalada.

E sangra talvez
Pela última vez
Nossos fluídos.

Corpos, tremores
Amor, vapores
Tempos idos.


(André Bianc)

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Maresia

E a tarde me leva
Ao raro solstício
Pequeno artifício
Luz brilha na treva.

Pudera eu cansado
Erguer a esperança
Da vela que alcança
O remo quebrado.

Ah, quem me dera!
Sonhar a nova era
Nos pés quebra mar

E fazer uma pulseira
De conchas e eiras
De um eterno sonhar.


(André Bianc)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Causa


Do tempo extraditado
Só tenho o que penso,
Reviro o limbo, propenso,
Pesadelo desgraçado.

Meu corpo sobre os jornais
Sol amargurado, já é agosto!
Fotografias, rugas no rosto,
O futuro que não volta mais.

Envolvo-me nessa letargia
Na varanda espera a agonia,
Pontualmente e sem pausa.

E exausto, na alma eu silencio,
Outros sonhos que vivencio
Tudo que o amor me causa.


(André Bianc)

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O dia da maldade


A cidade amanheceu estranha
Uma angústia nas almas caladas
A premeditação na entranha
Das facas escondidas e afiadas.

O cheiro do ódio está no sangue
E nos olhos rubros e irrigados
Viúvas colhem flores de mangue
Para os velórios dos desgraçados.

Mas muito antes da noite cair
Algum anjo-demônio há de vir
Com o intento de nos matar.

Mas acordo com a janela que bateu,
Cruel pesadelo e o dia amanhecer
E um lindo bem-te-vi a cantar.


(André Bianc)

Constatação

Não tenho mesmo pra onde ir
E ninguém me quer esmolar,
Mas para viver basta sentir
E construir um etéreo sonhar.

Se ainda tento algumas idas
No pensamento, já retornei,
Num voo curto de asas partidas
Por destinos que ora neguei.

E sem nenhum contentamento
Buscarei o vago esquecimento
Para a vida que nunca me quis.

E se um dia eu for primeiro
Recolha as flores do canteiro
E todos os versos que eu te fiz.


(André Bianc)

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Encantamento

Que antro é o meu coração.
Quiçá um gélido necrotério
Defuntas paixões, pretérito,
Num arcabouço de ilusão.

Mas continua sagaz e batendo
Como sinos das torres caídas
Anunciando e nada retendo
Todas as lágrimas escorridas.

Passa a vida marcando
O amor alheio sangrando
Pelas veredas invernais.

E direi com a dura certeza
Que o melhor ficou na mesa
Os seus encantos carnais.


(André Bianc)

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Vitrais

Sou esse instante e mais nada
E aquilo que eu nunca entendi,
Não obstante a essa dura jornada
Sei que sei, mas nunca aprendi.

Abro a cúpula desse observatório
E vejo o que da vida fiz por inteiro,
Num universo vão e contraditório
Identifico-me como um forasteiro.

Mesmo assim muito conjecturo
Neste largo campo que mensuro
Nas ondas etéreas do pensamento.

E escorrem as lágrimas das chuvas,
Meus olhos, cristais-cachos de uvas,
Pelos vitrais finais desse momento.


(André Bianc)

domingo, 3 de setembro de 2017

Vigília.

Conte-me da sua estranheza
E daquilo que não te faz bem,
Deixe sempre a sua luz acesa
Iluminando o que há mais além.

Traga na necessária bagagem
Os seus desejos de mudanças,
Sabendo que tudo é passagem
Sem nenhum direito a heranças.

E mesmo que a noite não valha
Uma lágrima sequer na toalha
Deixe as suas flores na janela.

Pois ficarei aqui atento a rondar
Seu sono profundo, o dia raiar,
Postado qual um bom sentinela.


(André Bianc)

Inveja.

Sim. A sua escrita é boa,
E seus poemas belos.
Mas o verso se esboroa
Das torres dos castelos.

Ao longe sinto que falta
Uma desejável estrutura...
E um ritmo que ressalta
Ou uma pequena sutura.

Tu és um tanto liberta
Digo pouco que presta,
Desnecessário deletério.

E por eu ler tão distraído
Às vezes me sinto atraído
Por seu poético mistério.


(André Bianc)

Daqueles

Eu gosto dos poemas
Daqueles desgraçados
Dos versos lanhados
De açoites e dilemas.

Gosto das obscuridades
Dos sem esperanças,
Em letras de maldades
E muitas intemperanças.

O poema serve para cortar
Ferir, sangrar e dilacerar...
E jogar nos úmidos porões.

Ao fim, sem nenhum remorso,
Cortarão os corações trevosos
Numa hemorragia de ilusões.


(André Bianc)

A culpa é sua.

Estamos vivendo o momento
Nossos corpos estão a sorrir
Nesse repetitivo movimento
Mas sei que tudo há de ruir.

Não é um amor profundo
É só desejo, você se enganou.
Dei volta e meia pelo mundo
Para te dizer: Que pena, passou...

E continuamos aqui deitados
Com os sentimentos celerados
Sob um teto de esperança vã.

Não teremos a noite inteira
Só este amor podre na fruteira
Contaminando sua doce maçã.

(André Bianc

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Falha

O coração pede clemência
Os olhos veem perplexidades
A alma conspira demências
E o corpo as suas vontades.

Neste cenário eu não alinho
O tudo que sou e quero ter
Pois entre a água e o vinho
Ambos o meu desejo é beber.

E afogado nessa dimensão
Dúbio, entre o sim e o não,
Busco um contentamento.

Mas por falta de um sentido
Penso que fui sem ter ido
É falha a percepção do tempo.


(André Bianc)

As ilhas

A crueldade com que te amo
É digna dos grandes canalhas
O prazer em cortes de navalhas
Rosas sangrentas em ramo.

Mas você louca e desatinada
Deixa-se levar por essa tormenta
Trasbordando a dor que alimenta
O meu gozo afogado que mata.

As intempéries do tempo refeito
Dormes depois sobre o meu peito
Sonhando com tantas maravilhas.

E eu já satisfeito e contentado
Tento sonhar e virar para o lado.
Oceano de fêmeas, eu sou as ilhas.


(André Bianc)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sonho infanticida

Num moinho surreal, eu fantasiava
Eloquentes sonhos de mil intentos,
Entre fracassos, o eu-herói estava
Nas batalhas intensas do pensamento.

Perdi-me então, pelo adulto caminho
Onde só existem exércitos vencidos,
Sem rumo e vizinho, fiquei sozinho
E longe do meu personagem preferido.

Por fim, eu fui expulso daquela história
Das raras páginas imaginadas de criança,
Cresci, foi-se o sonho, a luta e a glória
Não fui sequer um Sancho Pança.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Pequeno Mapa do Pensamento - Parte II

Inúteis percepções e experiências
Uma pedra que não percebe e sente,
Ou um animal irracional doente
Num sentido isolado da existência.

Cativo em espaços de conclusão
Associando fatos não precedidos,
Do pensar a linha frágil da reflexão
Ocasional significado subtraído.

Impassível diante desta amplitude
Da arquitetura dura do pensamento,
Justifico a todo possível momento
Os equívocos propositais das atitudes.

E exilado dos tormentos do mesmo
Mundo impessoal e muito conjecturado,
Reduz-se em partes e também a esmo
A filosofia fria dos dias vãos e inacabados.

domingo, 13 de novembro de 2011

Pequeno mapa do pensamento

É um mosaico de perspectivas
As sombras das angustias indivisíveis,
Seccionadas por vozes intuitivas
Em linguagens incompreensíveis.

Assim percebo a perda do contato
Dos dúbios valores convencionais,
Represo o conflito e logo trato
De recompor o pensamento fugaz.

No desapego reflexivo delibero
Os súbitos tons da existência,
Por osmoses ou catarses, reitero
A dissolução da vã consciência.

E toda esta evasiva contemplação
Falsa testemunha da palavra escrita,
Entre o criador e a criatura, a devoção
Subjaz a verdade nunca dita.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Antes de um sonho

Ilustram a existência, interrogações
Depuração límpida, sóbria que aflora,
Predominante de vãs conspirações
Nos irreais universos do exato agora.

Modelo de teoria cega e ultrapassada
Além de verdade, todos nós, nos desatamos,
Do pensamento inútil, mente perturbada
Historiadores equivocados, imaginamos?

Cultivados em estufas do velado cinismo
O alimento das nossas mentiras necessárias,
Em conceituais aparências do iluminismo
Impostas por regras absurdas e arbitrárias.

E a partir ponto central, e nada mais
Dos neurastênicos discursos dos sentidos,
Apenas servem para nos jogar para trás
E despersonalizar os nossos ouvidos.

Ilustram a existência, o ego e a filosofia
Entre fatores congênitos e recalcitrantes,
Diante da dramática e constante agonia
E cientes que nada, nada será como antes.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Uma outra canção

Trêmula e enlouquecida
A tua noite não sucedeu
A paixão feroz e corrosiva
Deste teu desejo ateu.

Abrirão nuas as portas
Da insólita e incerta aurora,
Paisagem, cinzas mortas
A solidão nos espera lá fora.

E a cada passo vacilante
Talvez ainda te encontre com vida,
Mesmo sem saber se é relevante
Viver está existência falida.

Então como identificarei você?
Maquiada de tanta ambigüidade,
Se não consigo sequer reconhecer
A minha própria identidade.

Restará enfim, a finada magia
De te amar mesmo sem motivo
E conviver com tamanha agonia
Ao saber que agora apenas vivo.

Trêmula e enlouquecida
A tua noite não amanheceu,
Abraçarei tua sombra viva
E o sonho que já morreu.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Resignação

Porque andas apreensiva?
Se tão breve é a nossa vida.
Vem os ventos do poente
E sopro imperceptível,
A deslocar de nível
O que nos era incoerente.

Giram-se os mundos calados
Ouvindo os poetas ardentes,
O escárnio dos descrentes
E o pranto dos enlutados.

O ritmo da vida permanece.
Mas nós não somos os mesmo,
O tempo as malhas da mudança tece
Nossas memórias são jardins tão ermos.

Porque andas apreensiva
Se o amanhã não mostra o seu rosto?
Não sabes a caso a devida,
Vão-se os barcos do sonho ao sol posto?

E que a lua retome e abraça
Mesmo o que tomba ao que passa,
Haverá de ser sempre querida
Mesmo por mim com essa asa partida
Que a vontade de Deus desenlaça.

sábado, 20 de agosto de 2011

Adagio Lamentoso

O que me falta de esperança
Sobra-me por ti, grande amor
Equaciona querida
E há de mensurar a minha dor.

Julga-te acaso esquecida?
Tal não pode se dar,
Pois mais vale um vento já ido
Criar outra onda no mar.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Definição

Definir tudo que existe
Transcendendo o individual
Buscando a resposta que omite
O "ter" fútil e o "ser" essencial.

Tentaremos um novo exercício
De refletir, contemplar e amar?
Trabalhando neste duro ofício
Toda a existência a resgatar.

Definir é limitar.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Relatividade

Relatividades que compõem o espaço
Discrepâncias múltiplas do existir e ser,
Tendo cada corpo o seu próprio compasso
E o descompasso do outro para entender.

Se para uns é apenas mais um pouco
E para outros tudo é demais, até infinito...
Em parâmetros entre o normal e o louco
Negando todo o questionamento aflito.

E se toda a ótica da existência fosse relativa
Tudo seria composto de absolutamente nada,
Sequer haveria a alma humana intuitiva
E a descida poderia ser vista como escalada.

Ciências, religiões malditas e a vã filosofia
Tudo nestes confusos e discutíveis contextos,
Se para uns são muletas ou meio de vida
Para outros são meros irreais pretextos.

Relatividades que compõem o espaço
Discrepâncias múltiplas do existir e ser,
Muito além do extremo humano cansaço
Na existência que pensamos viver.

Contra a Corrente

Romper com os paradígmas autoritários
Criando um novo pensamento existencialista,
Para que os modelos medíocres e imaginários
Fiquem restritos apenas aos psicanalistas.

Entender que a loucura é a mais pura razão
E vítima desta roda-viva que tem nos esmagado,
Exigindo-nos a todo instante da cruel competição
Resultados convincentes e por ela manipulados.

Ter a consciência da nossa efêmera passagem
Por esta vida que somos meros coadjuvantes
E quem sabe tentar inserir nesta paisagem ?
Nossa figura na breve posteridade entediante.

Romper com os paradígmas autoritários
Criando um novo pensamento existencialista,
Conquistanto cada canto do tempo perdulário
Mesmo que toda retrógada corrente resista.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Lápide. ( Rua L, quada 20 , Campa 18)

Guardião dos sentidos opostos
Todos os elos serão quebrados,
Dos dias iguais sobrepostos
Primórdios medievais passados.

Habitante da mal fadada era
Nunca poderá sequer conter
A volúpia de alguém que espera
Os sonhos que inda possa viver.

Libertar as almas dementes
Presas em paredes horizontais
Viagiadas por negras serpentes
Viajantes de periféricos umbrais.

Guardião dos sentidos opostos
Todos os elos serão quebrados
Declamarei abraçado aos mortos
Meus poemas jamais declamados.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Inalcançável Amanhecer

Desigualdades incompatíveis
Obviedades longas por viver
Em todas as partes invisíveis
Um novo corpo apodrecer.

Com tantas palavras não ditas
E amores jamais finalizados
Apesar das promessas malditas
Dos velhos Deuses decapitados.

Ignoremos então a nossa morte
Certeza única e alentadora
Muito mais que azar ou sorte
A vida numa trilha desoladora.

Por fim restarão todos os pecados
Daqueles sem o menor perdão
Cometeremos os mais variados
Sem tempo para uma só reflexão.

Desigualdades incompatíveis
Obviedades longas por viver
Muito além da racionalidade
E do inalcançável amanhecer.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Desencontro

Translúcido sentimento
Nem assim poderei compor,
O imaginado acontecimento
Quando em penso neste amor.

Paro e não me entendo
Porque ainda permaneço aqui?
Pois sequer os braços estendo
Deixando a vida ruir.

Anônimo na estação do tempo
Nem por mim poderei esperar,
Sem tristeza ou contentamento
De partir ou de chegar.

E ao longe vem o inútil amanhã
Repleto de tantos conflitos,
Eu abraçado com a esperança vã
Quem ouvirá meus gritos?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Anacronismo


Descansar as palavras na boca
Regurgitando os sonhos futuros,
Em quadros, miragem tão louca
Expostos em penhascos obscuros.

Evocar a luz em plena escuridão
Pisando nos degraus da insanidade,
Chamar os inimigos em mutirão
A declamar poesias pela cidade.

Ao final, habitar em ti, cemitério ...
Para decompor o sombrio passado,
E sepultar vivo esse frágil mistério
Em covas de perdão e pecado.

Descansar as palavras na boca
Regurgitando os sonhos futuros,
Concluir que a vida é tão pouca
Pichando os sonhos nos muros.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Cigana


Na palma da mão
Um sinal.

O que ficou daquela esperança?
Das certezas ingênuas de criança.
As esperanças e intrigas
Como algo sobrenatural.

Ficou suspensa na poeira?
Num pensamento qualquer exato,
Retratado em óleo abstrato
Ou como queira.
E agora é surreal.

Tas vagas previsões ?
Teus conturbados sentidos,
Anéis, vestidos rodados e cordões.
Em quais corações perdidos?
Alheios ao bem e o mal.

Talvez no etéreo movimento
Na respiração mais profunda,
Onde todo sangue inunda
Como um corte visceral.

E nada entenderei
Um dia ...
Do prazer ao sofrimento.
Na palma da mão
Um sinal.

sábado, 24 de maio de 2008

Estrelas


Refletem sobre mim
Luzes tristes de estrelas
Melancolia , janelas sem fim
Como poderei descrevê-las ?

Será no mais tênue limite
Onde habita a dor que vede ?
Ou no desalento que omite
Estas fontes azuladas de sede ?

Amanhã , apenas o pensamento
Calado em grota profunda
Em seus labirintos de sentimento
Que em ti tudo inunda.

Depois de cerrados , além vida
Água marinha em fotografia
Que levará eternamente de vencida
O tempo que a tudo desafia.

Refletem sobre mim
Luzes tristes de estrelas
Deixo-te aqui enfim
Para as tristezas não vê-las.

O redescobrimento que transpassa o véu da saudade

Vivemos o novo descobrimento
Ousarei despi-la de toda poeira,
Meu desejo de um chamamento
Tua vida na cidade estrangeira.

Faremos uma viagem inversa
Talvez do ponto final, destino?
Revolvendo uma paixão imersa
Na sina do que sinto e obstino.

E as saudades, as ruas Lisboetas
Ficarão encharcadas nos panos...
Jardins, pai, mãe e violetas,
Irmãos, meus passos ...vamos?

domingo, 23 de março de 2008

Pretensão

Tua poesia parece
Pesar sobre mim
Ausente e presente
Princípio do fim.

Ausente e presente
Amanhece enfim
Que pena ela esquece
De versar sobre mim.

sábado, 22 de março de 2008

Conflito

Agora nada adianta dizer
Tua voz me cortará como faca
Eu que não tenho nada mais à fazer
Já vivi o bastante p'ra nada.

Você tão saudosa do futuro
Saudoso eu , vidas passadas
Eu aqui recluso e obscuro
Para suas respostas caladas.

E o abismo que nos separa
Fosse ele ideológico ou não
Esta loucura compartilhada
Retalhando nossa inútil razão.

Agora nada adianta dizer
Tua voz trêmula e embargada
Eis a questão : Ser ou não ser
Eu sei que nunca fui nada.